sexta-feira, 28 de março de 2008

Minhocão

Entrei no minhocão.
(Adoro andar nas molas do minhocão.)

O cara tinha uma tatuagem de macaco no braço e uma camiseta de macaco. (curioso...como eu tenho gostado desses dois temas.) Vai ver ele não conseguiu ainda se desligar das raízes...

Entrou no corredor de ônibus e mostrei a língua pros carros que seguiram trancados na Oswaldo Aranha. Adoro essas facilidades coletivas.

Muitas pessoas saíram, vários assentos ficaram livres. Um rapaz ficou na junção. Ele era como eu.

Adoro entrar no túnel. Esse sim é outro mundo. Os sons mudam, as cores mudam. Eu me sinto tão bem dentro do túnel...

Caía um toró quando cheguei no Mercado. Por que diabos eu não peguei o guarda-chuva laranja??

Saí do minhocão.
Ah, o minhocão.

Assalto

Em plena Protásio Alves, às 16h. Eram dois.
- Ó, a gente não tá assaltando vocês. Vocês que tão nos dando.
- Quanto tu tem aí?
Abri a carteira e mostrei os únicos 7 reais que tinha. Ele pediu. Eu dei. Afinal, estávamos dando.
- Bah... passa esse tênis aí também.
- Tá, mas... como é que eu vou pra casa?
Ele pensou.
- Pega aqui as minhas havaianas.
Ele ofereceu os chilenos (ai, Ganzo) imundos.
- Bah, meu, não faz isso com a guria....
E ele devolveu os queridos tênis.
- Bah, che... como é que a gente vai voltar pra casa? Tu tá levando o dinheiro todo!
- Quanto que custa a passagem?
- 2 pila.
Ele pensou.
- Então toma esses 5 pila aqui.
- Bah, valeu, hein. Tchau.
E fomos nós para um lado, eles para o outro.

quarta-feira, 26 de março de 2008

Dois em um - Ao pai véio aniversariante

Há 20 anos na Brigada Militar, o Tenente-Coronel Newton Roesch Aerts assumiu, pela segunda vez, a direção do hospital da coorporação, o HBM. O mão-de-ferro durante a semana, transforma-se, no fim de tarde da sexta-feira, em um assador contador de piada e amante do iatismo, seu novo hobbie.

Levanta-se todos os dias às 6h30min. Não importa se é terça-feira ou sábado. A essa hora, pode-se encontrá-lo na mesa da sala, tomando chimarrão e vendo a previsão do tempo na internet. A única diferença entre ele e doutor Newton, pai de família, é a farda.

Bigodudo a la Olívio Dutra, ninguém nunca viu seu lábio superior. Poderia ser um típico gaúcho de Cachoeira do Sul – terra onde nasceu-, se não fossem as roupas de temas havaianos e os mocassins que usa ao velejar, em momentos de folga.

Aos 50 anos, sem nenhum cabelo branco, o cirurgião vascular se gaba das filhas que tem. É um dos únicos pais que não se arrepende de não ter tido filhos homens. Isso porque, além do fato de as duas serem “faca na caveira”, como diz, atualmente pode mandar e desmandar nos futuros genros.

No trabalho, o oficial é respeitado e reconhecido por seus feitos: mais de uma vez salvou a vida de algum colega em cirurgias de risco. Em casa, é ovacionado por seus omeletes e tranças feitas para o ballet. Adora sair com a família para comer comida mexicana (japonesa, tailandesa, árabe ou bauru) e dormir no cinema vendo filmes que a esposa escolheu.

É do tipo de pai que sempre participou das festividades da escola. Mas, muitas vezes, o trabalho atrapalhou a permanência total nos eventos. Aí entra o avô materno para representar o doutor Newton: o bigode é o mesmo, só muda a cor e o tamanho da barriga.

Sempre que ele anda, pode-se ouvir o barulho do relógio de pulso, estilo mergulhador, com cronômetro de tempo de submersão. É assim que se sabe que ele está chegando. Nessa hora, esconde-se o presente do dia dos pais, esconde-se os papéis não preenchidos, esconde-se o namorado dentro do banheiro, esconde-se a foto do Coronel em trajes de banho. A única coisa que não se pode disfarçar, é o sorriso ao vê-lo chegar.

segunda-feira, 24 de março de 2008

31

Espirrei 31 vezes. 31.
Isso lá é número pra espirro? E em uma sexta-feira santa? Jesus por acaso não tem piedade de nós?
Era um: Ô, zai (Zai é o maurício) atchô - porque eu não espirro fazendo atchim - (1), me passa a cane atcho (2), ta? E vê se dep atcho (3) ois me vê aquele caderno ali atcho (4)..
E assim foi... até o 31.

31 espirros.

Também não posso dizer que foram exatos 31. Até porque no início, a gente não conta, porque espera passar. Mas dá pra ter uma idéia de quantos espirros foram mais ou menos até o limite do absurdo.
Dá, né?

Acho que, dependendo do ponto de vista, 31, em uma sexta-feira santa, pode ser pior que ser apedrejado na cruz.

quinta-feira, 20 de março de 2008

Nozes

Ele era azul. Ela era vermelha.
Ele gostava de beber. Ela reclamava do gosto do álcool.
Ele fumava. Ela tossia com a fumaça.
Ele penteava os cabelos para o lado. Ela, para trás.
Ele tocava harpa. Ela tinha horror do som.
Ele gostava de listras. Ela, de xadrez.
Ele não comia carne. Ela só pedia picanha.
Ele jogava tênis. Ela tinha tendinite.
Ele era de direita. Ela votava no PT.
Ele ouvia rádio. Ela via TV.
Ele gostava dos domingos. Ela, das terças.
Ele fazia musculação. Ela dormia a tarde toda.
Ele era de gêmeos. Ela era de lua.
Ele comprava em dólares. Ela não gastava em nada.
Ele viajava para Chicago. Ela nunca entrou em avião.

E os dois
Eram eu.

terça-feira, 18 de março de 2008

Joaquim

Joaquim matava ratos. Ratos. Dos brancos. Não adiantava ele tentar explicar que era o seu trabalho. Ele era o matador de ratinhos de olhos vermelhos endiabrados. E sim, os olhos são demoníacos.

As tardes de Joaquim são: pega pescoço, squiiiic, tchaaa. Pega pescoço, squiiiic, tchaaa. Pega pescoço, squiiiic, tchaaa. Pega pescoço, squiiiic, tchaaa. Pega pescoço, squiiiic, tchaaa. São cinco ratos por dia. Cinco cabeças pela metade, caídas da pequena guilhotina, rolando para dentro da bacia bege de fundo raspado. Para ele, não tem mais horror quando o rato se mexe e a cabeça é cortada errada. Para ele, já virou rotina. Squiiic, tchaa.

Teve um dia em que Joaquim cansou. Cansou dos ratos, cansou do squiiic.
Resolveu mudar:

Quer macacos.

Universo Paralelo

Ônibus é um universo paralelo com seu próprio buraco negro. Tem cada tipo estranho, cada conversa bizarra que se ouve... E além disso, entra entra gente e nunca sai ninguém. Onde será que enfiam todos eles? Minha teoria é que em cada ônibus há um buraco negro, sem fim. As pessoas caem ali e só saem quando chega a sua parada. Mas, claro, o buraco ocupa o espaço delas no ônibus. Hoje entraram umas 38 pessoas e saíram umas duas. Toda vez que o T1 parava, entrava gente e saía ar. Até onde eu sei, para que os meio sejam isotônicos, a mesma quantidade deve entrar e sair. Mas o saldo foi sempre positivo. Parecia que cabia sempre mais um naquele ônibus, mesmo não cabendo, mesmo todo mundo estando espremido até não poder mais.

Nunca ouvi tantos “S S”... (outra teoria minha: as pessoas engoliram o Com Licença e somente pronunciam S S. Pode notar.) Achei que ia ser levada pela corrente e jogada porta a fora, ali mesmo, na Perimetral. Eu, coitada, que queria ir até o centro, tive que ficar jogada em cima de um gordinho sacana, que tava de pernas abertas e ocupava meio corredor... Aquele sacana. Gordinho safado.

Dentro desse tal buraco negro deve ter banquinhos muito confortáveis. Afinal, quem é que quer viajar em buracos negros? Devem ser escuros, sem graça, sem fim. Sobre o que será que as pessoas conversam? Será que elas se enxergam? Será que tem um monitor avisando as paradas?

Ônibus é realmente um novo universo a ser explorado.
Mas não por mim. Eu prefiro ficar agarrada no puta-merda superior, rezando pra que não me levem a pele junto com a bolsa, ao invés de me tocar num buraco negro e correr o risco de perder a parada.

Vai que não tem monitor...

segunda-feira, 17 de março de 2008

Amígdalas

Amígdalas. Sim, com G.
É assim que minha família toda fala. Eu acho que é um problema de fala congênito dos Ganzos (ou seriam Gonzos?). A família tem uma certa implicância com as palavras. São raras aquelas faladas corretamente: nádegas viraram nadégas, amídalas, amígdalas, etc. Mas não é sobre isso que eu ia falar. Ia falar sobre o saco que é tê-las. Em especial as duas. Se fosse só uma, até vai. Mas, duas? Só pra encher? Que desgraça. As minhas, por exemplo, doem agora. Tão fechando, fechando a minha traquéia que só um filetezinho de ar passa. (E lá vem o pai dizendo: Vai fazer gargarejo com água e sal. Ele acha que médico sabe de tudo.)

E elas estão inchando. Tomando conta de mim. E, quando eu me dei conta, já era uma delas. O que que as pessoas vão pensar?
Pelo menos eu tenho um G pra me salvar. Não sou uma simples amídala. Sou A Amígdala. (Com G. Isso, com G. Anota aí. O G se pronuncia. Não, não é erro de digitação. É com G mesmo.)

Como será a aparência de um amídala? Ela sempre ficaram escondidinhas, lá no fundo da garganta, sendo as vezes cutucadas pela língua. Será que elas tem cara de saco de pancada? Será que eu tenho cara de saco de pancada?

Acho melhor eu ficar aqui por casa. Não quero correr o risco de sair na rua e ser apontada pelo ranhento: Olha, mãe! É que nem a minha, lá no potinho de vrido (outra palavra Ganza). Será que ela quer voltar pra mim?

Eu não quero voltar pra ninguém, nem servir de saco de porradas pra língua nenhuma. Só quero fazer meu gargarejo de água quente com sal e desinchar, desinchar...

O início

É... Eu, de novo, começando um blog. Nunca tive tempo nem saco pra continuar. Já devo ter feito uns três. Já devo ter explodido os três. Mas dessa vez acho que me animei um pouco mais. Vendo o pessoal se mexer pra escrever, vendo que eu posso fervilhar de idéias e colocá-las em prática...
Confesso, estou um pouco - bastante - enferrujada.


O negócio é dar início aos trabalhos.