terça-feira, 12 de agosto de 2008

Cidadão de Papelão

(O Teatro Mágico)
O cara que catava papelão pediu
Um pingado quente, em maus lençóis, nem voz
Nem terno, nem tampouco ternura
À margem de toda rua, sem identificação, sei não
Um homem de pedra, de pó, de pé no chão
De pé na cova, sem vocação, sem convicção
À margem de toda candura
À margem de toda candura
Cria a dor, cria e atura
Cria a dor, cria e atura
Um cara, um papo, um sopapo, um papelão
O cara que catava papelão pediu
Um pingado quente, em maus lençóis, à sós
Nem farda, sem tampouco fartura
Sem papel, sem assinatura
Se reciclando vai, se vai
À margem de toda candura
À margem de toda candura
Não habita, se habitua
Não habita, se habitua
Homem de pedra, de pó, de pé no chão

quinta-feira, 7 de agosto de 2008

Se vá.

É de lágrima que meu coração se vai.
Vai em partes para cada lado. Se divide em pequenos pedaços de amor.
Uns pedaços voltam logo para casa. Outros, não. Eles ficam ainda longe por ainda tempos.
E se vão os braços, os cabelos, os olhos, as roupas e, por que não, o coração.
Corações já pequenininhos de saudade, expremidos até doer.
Doer de quem amanhã já chega,
Doer daqueles que foram e não sabem se um dia voltam,
Doer daqueles que se deixaram ir.
Todas estas minhas.
Eu, dolorida.
Dormente.