sexta-feira, 30 de maio de 2008
Skillas e o apito inicial
Então, o árbitro levou o apito aos lábios.
segunda-feira, 26 de maio de 2008
ônibus? numa hora dessas?
Isso é realmente curioso. Não sou uma pessoa simpática. Não ao menos com quem não conheço. Passo muitas vezes a impressão de sisuda e até esnobe. Mas isso não vem ao caso.
Sábado, peguei o colectivo e, ao passar pela roleta, ouvi do cobrador:
"Indo pra aula hoje, loirinha?"
Loirinha? Que bela intimidade com o cobrador das 7h40. Nem a minha mãe me chama assim.
Quando eu chego meio tarde na parada, o motorista pára para mim no sinal e abre a porta. E diz:
"Não acordou hoje, é?"
He... é brincadeira... Ainda tenho que ouvir o motorista do ônibus me cobrando responsabilidade.
Sem contar que, esses dias, ao sair do ônibus, esse mesmo veio falar comigo:
"Resolveu frequentar a aula, é?"
Fazia dias que não ia com o ônibus das 7h25, horário dele. E ele me cobrava as aulas.
É... é da intimadade que se dá o abuso.
Mas eu aguento. Não ha nada melhor que uma conversa e um sorriso mistoso logo no início da manhã.
domingo, 11 de maio de 2008
À Dênis Marques, a mãe.
Ednesi dizia que sabia de tudo. Dizia que seu nome tinha sentido (É uma deusa romana!). Sabia tudo do céu, da terra, da água e do mar. Especialmente do mar. Às vezes, parecia que tinha vindo de lá. Dizia saber o nome dos bichos, como chamá-los para perto, o que comiam e onde viviam. Como se não bastasse, dizia saber tudo da condição humana. Sabia por que agiam de certas formas em certas ocasiões. Lia seus pensamentos. Previa ações. Mas um fato. Um simples fato. Na verdade, dois. Dois fatos quebraram Ednesi. Em um dia de chuva, achou dois embrulhos na soleira de uma loja de pneus. Um era azul, da cor do céu, das nuvens e do mar. O outro era vermelho, intempestivo, intenso. Levou os embrulhos para casa. Deixou-os embrulhados por muito tempo. Não tinha coragem de abri-los. Podia haver algo ali que não conhecesse. Poderiam duvidar de seu magnífico conhecimento. Ela mesma poderia duvidar. O marido, de olhos claros e serenos, achou que não valia a pena esperar. Um dia, depois de Ednesi sair para o trabalho, o marido, Wennot (É americano, os pais vieram de Michigan!), foi furtivamente até o quarto e pegou os embrulhos. O coração batia acelerado. A esposa poderia voltar para casa a qualquer momento caso tivesse esquecido alguma coisa. Pegou o embrulho anil primeiro. Trouxe perto do rosto. Descobriu parte do embrulho. Viu dois olhos. Da cor do pano. Que piscava para ele. Espantado, quase deixou cair o embrulho-vivo no chão. Respirou fundo, olhou ao redor para ter certeza de que não estava sonhando ou procurando alguém para confirmar o que acabara de ver. Olho de novo para a parte descoberta do embrulho. Os olhos estavam lá. Sorrindo. Como não haviam notado que havia olhos dentro do embrulho? Tanto tempo, achando que não era nada! Descobriu o resto dos olhos e viu uma espessa cabeleira lisa cor de sol. O embrulho vestia uma roupa de marinheiro. Até então, estava tão entretido com o embrulho anil que não se dera conta de que havia outro embrulho. Olho para cima da cama e viu o outro embrulho. Vermelho. Furioso. Vivo. Olhou com mais calma, de perto, e pode ver que o embrulho se movia quase imperceptivelmente. Sacudia. Como nunca havia percebido isso também? Que inocente... Embebido na sabedoria da esposa, achava que não sabia de nada. Que somente ela sabia. Mas agora ele sabia. Sabia mais que ela. Ednesi nunca havia aberto os embrulhos. Voltando em si, Wennot, com um olho no embrulho azul, se voltou para o vermelho. Com receio, descobriu a mesma parte. Agora os olhos do embrulho-vivo não eram mais azuis. Eram castanhos. Castanhos claros. E não sorriam de volta. Eram de um olhar intenso, penetrante. Que fizeram o marido cobrir o embrulho novamente. Olhou para o ex-embrulho azul. Olhou para o embrulho vermelho. Com cuidado, destapou o resto. Diferente do anil, o vermelho não possuía os cabelos lisos. As melenas caiam em cachos, mas também eram cor de sol. Vestia uma roupa roxa. Tentou morder Wennot com os parcos dentes que tinha. Wennot então se afastou e olhou os dois ex-embrulhos, agora seres. Embevecido com a doçura do que via, não notou que Ednesi chegava. Ela parou na porta, atrás de Wennot. E não disse nada. Sua cara era de terror. Os embrulhos haviam sido descobertos. E ela não sabia o que era aquilo. Foi aí então que se deu conta. Que era bom. Que era bom não saber. Que era bom o novo. Que tinha vontade de descobrir. Chegou mais perto de Wennot, que ficou petrificado com a aproximação da esposa. Chegou perto dos pacotes não mais pacotes. Olhos para os dois seres. Um de aura azul. Outro, de vermelha. Eram tão distintos. Emanavam energias diferentes. E ela teve curiosidade, pela primeira vez. Curiosidade de saber como lidar com a situação. Como cuidaria dos embrulhos, afinal, seu salário de funcionária pública mal dava para sustentar duas bocas. E sorriu. Sorriu em frente ao novo. E abraçou. Os embrulhos, o marido e a idéia. E criou cuidou conheceu aprendeu discordou chorou riu brigou dançou e viveu.
Até hoje.