quarta-feira, 30 de julho de 2008

Tenho um perseguidor.

Uma sombra. Que me segue a todo lugar que vou.
Sombra de carne e ossos e suiças e barba rala.
Entro em pânico quando noto a presença dele.
Porque ele me segue. Incessantemente.

Encontro-o entre 40 mil pessoas. Duas vezes.
Sempre, na parada do ônibus.
No shopping, no supermercado, no hospital,
na rua, no bar, no bar, na rua de novo.

Esses dias, descobri seu nome. E tentei não esquecer.
Parece que ele queria que eu soubesse
Sentou atrás de mim no ônibus
e, falando ao celular, soletrou.
S-O-L-E-T-R-O-U
Para mim.

Já achei diversas ligações entre nós
E já não sei mais
quem persegue quem.

segunda-feira, 7 de julho de 2008

Ogra.

Não adianta. Eu não tenho o jeito da coisa.

Não sou meiga. Não sou fofucha. Muito menos um amor.
Não consigo usar o abre-e-fecha fácil da Lacta.
Não sei abrir nem Halls nem Clube Social pela listrinha vermelha.
Não consigo beber nada sem me derrubar.

Só como carne mugindo e fugindo de mim.
Sou zagueira.

Não tenho paciência para o telefone.
Não consigo dar explicações sem trincar os dentes.
Não tiro os nós dos sapatos.
Não uso roupas passadas.

Acordo e ponho as mesmas meias de ontem.
Escovo os dentes com vigor.

Não penteio os cabelos há quatro anos.
Não sei me maquiar.
Não uso cores vivas.
Não dou abraços com os dois braços.

Meu namorado reclama que eu só machuco ele.
Estralo os dedos sem parar.

As vezes acho que fui encontrada em uma gruta,
em meio a ossos e pedras.
Eu, a menina ogra.