Ah, o Centro.
Como moradora do Menino Deus, nunca tive a oportunidade de andar pelas ruas de meu bairro e esbarrar em pessoas diferentes a cada esquina. São índios, loiros, morenos, ruivos, calvos, grisalhos, negros, albinos, crianças, idosos, gente sem idade definida, pedintes, compro-ouro-corto-cabelos, mágicos, prostitutas, malabaristas. É isso que aprecio no Centro: os encontros. Andar nas ruas, esbarrando, esquivando, contorcendo para fugir dos apressados, olhando, sempre, a todos. Ver seus olhos cansados, a fumaça saindo da boca, os braços estendidos entregando panfletos, os corpos enrolados em jornais no chão, as crianças tocando violas acompanhadas por gaiteiros já passados da validade.
Ah, o Centro.
Nos dias de hoje, em que todos fugimos do contato humano apelando para o mundo cibernético, o Centro permanece como último remanescente da humanidade. É lá que todos trocam toques e carinhos apressados e sem compromisso. Onde algumas pessoas voltam a sentir-se amadas, pedem desculpas pela diminuta relação que tiveram e seguem em frente, um pouco mais felizes. Um pouco mais aquecidas. São pequenos esbarros, pequenos pegares de mãos, pequenos chutes nos tendões de Aquiles, mas que fazem toda a diferença para os carentes da cidade.
Ah, o Centro.
Andradas, Sete de Setembro, Duque de Caxias, Borges de Medeiros. Lombas e planos. Tenho uma estranha atração pelas ruas do Centro. Os calçamentos, as árvores, as mesas de damas, os colares e brincos expostos, os passantes e os estáticos. Enquanto atravesso o Centro, meus olhos vão captando as belezas escondidas e as sutilezas imperceptíveis aos apressados.
Ah, o Centro.
Outra peculiar alegria minha são os dias de chuva. Literalmente, chove de baixo para cima, de cima para baixo, de todos os lados para lado algum. É aí que entram os guarda-chuvas. Coloridos, pretos, transparentes, gigantes, médios e pequenos, frágeis e firmes, todos amontoados formando um descompassado tapete que cobre as ruas. O Centro vira carnaval e a cidade desfila pelas avenidas.
Ah, o Centro.
* Artigo publicado no Jornal do Centro
sábado, 21 de junho de 2008
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8 comentários:
Eu não troco o Centro por nada. Vou pegar o jornalzinho pra ver seu texto!
Essa eu li no jornal!!!! ;)
Boa tarde, não-xará, vou te linkar.
Já abraçou uma árvore hoje? Nem eu.
Beijos, boa tarde, boa noite!
Cara tu tavez seja uma das poucas pessoas que me entendem em relação ao nosso querido pólo de encontros.
Beijos pra ti
Sou anti social... Odeio o centro...
E pela primeira vez tenho vergonha disso... Saco.. :(
é engraçado que numa tarde no centro a gente vê mais gente do que num mês no meu bairro, ou em qualquer bairro residencial. assino embaixo, bebela!
pop!
eu digo tu.
parietais no topo das paradas.
e eu magrinho magrinho..
ééé mister eme...
amo o centro.
acho q porque me criei nele sei que nada melhor que ele nessa cidade.
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